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ColunistasO vestido vermelho| Llantada

O vestido vermelho| Llantada

O vestido vermelho

              Quando se aproxima o Natal eu me lembro de uma cena que participei há muitos anos. Não vou falar em algarismos para não trazer dados exatos, quando o que eu quero aqui é só usar a minha imaginação. Isso porque estamos vivendo mais uma vez aquela época do ano em que a gente se enche de sensibilidade.

         Cada um com o seu sonho, a sua emoção. Interessante esse espírito de Natal que se abate sobre nós, não é mesmo? Cada um reage de uma forma. Para alguns é momento de festas; comida farta e variada; bebidas; roupa nova; e troca de presentes. Para outros é um período de profunda tristeza pela lembrança de pessoas que já partiram. Também é uma ocasião em que a gente usa muito a espiritualidade, talvez em função do remorso que trazemos conosco, por a humanidade ter supliciado e assassinado um inocente: Jesus Cristo.

         Deixando de lado o mundo dos adultos, que pra mim é complicado, narro aqui, algo muito íntimo para mim, meu raro e paciente leitor, a historinha do “vestido vermelho”. A personagem a quem me refiro já não era criança, recém iniciava a sua adolescência. Aquela fase indefinida entre criança e mulher. Neste caso era uma menina, com treze anos de idade. Eu tinha vinte anos.

         De família pobre e numerosa, ela e os irmãos raramente ganhavam roupas novas. As que ganhavam, quando ganhavam, eram muito simples. A bem da verdade, devo dizer-te que ou eram feitas em casa ou usadas, ganhas de parentes ou vizinhos mais abonados. Ainda assim, via-se que ela era feliz, pois o sorriso ingênuo jamais lhe abandonava o semblante.

         No Natal era diferente. Seus pais faziam um esforço danado. Juntavam as parcas economias, mais o que sobrava do décimo terceiro salário e compravam brinquedos, roupinhas e calçados novos. De loja! Sim senhor. Então presentavam aos filhos. Para a minha garotinha tocou um vestidinho vermelho, bem curtinho, rodado, com dois lacinhos laterais, simulando fechar falsas aberturas. Numa tarde de sol, véspera de Natal, eu a encontrei na rua, com o tal vestidinho. Jamais eu tinha visto uma criatura tão meiga, delicada, bonita e feliz. Ela se aproximou de mim, magrinha, cabelos lisos com franja e pretos como de uma índia. Trazia um sorriso angelical, formando duas covinhas. Ela brilhava ao Sol, ofuscando meus olhos. Brinquei abrindo um dos lacinhos laterais, como se eu quisesse ver suas coxas e, com sorte, a fímbria da sua calcinha.

         Não aconteceu. As aberturas eram falsas. Mas a cor vermelha do vestido subiu-lhe de pronto às faces infantis. Poucas vezes me emocionei tanto. Nunca mais esqueci aquela cena. Acabamos casando. Formamos família O tempo passou. Mas eu jamais deixei de vê-la e tratá-la como a menina do vestido vermelho. O espírito de Natal faz coisas inimagináveis com a emoção da gente.

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